Acordei por volta das 03h40min da manhã (não que conseguisse
dormir muito mais que isso) agarrada ao travesseiro que estava encharcado de
lágrimas. E logo fiquei com raiva, achei que tinha me livrado dessa maldição,
desde que tinha chegado aqui nem uma noite sequer esse maldito pesadelo tinha
vindo, por que justo hoje? Era sempre o mesmo sonho, na verdade era sempre a
mesma lembrança. Lembranças nunca morrem essa era a verdade e a maldita lembrança
tinham voltado para me atormentar justo no meu primeiro dia de aula. Eu vinha
tentando ignorar tudo durante todos os cinco meses que seguiram o “problema” e
não cheguei nem perto de um bom resultado, mas não queria confrontar isso,
ainda não estava pronta, preferia fingir que estava bem.
O sol ainda não havia nascido e meu quarto se encontrava na
escuridão total, o cheiro do meu incenso de cravo ainda pelo ar, isso me dava uma
espécie de conforto estranho. O escuro me escondia dos meus medos.
Georgia e Julie ainda deviam estar dormindo no quarto delas.
As novas filhas de Tia Claudia. Julie, a menor, era uma fofa e Georgia, a mais
velha, apesar de muito bonita parecia meio desolada. Só fiquei sabendo delas no
dia anterior, depois da nossa seção de treinos, umas três horas antes de elas
chegarem. A casa tinha espaço para mais umas cinco pessoas (sem contar com
Titia, comigo e com Alex, o filho dela que estava na faculdade) viverem
confortavelmente, e Claudia tinha dinheiro para adotar mais cinco e cria-los
muito bem. Titia me contou algo sobre um incêndio em um ônibus, muitas mortes,
crianças no ônibus, o pai das meninas morreu e ela era amiga dele. Tudo isso
aconteceu no dia que me afoguei e titia resolveu que adotaria as duas e, bom,
foi isso que fez, mas demorou uma semana até que tudo estivesse em seus devidos
lugares e as meninas pudessem vir para cá.
Tia Claudia tinha ido buscar elas no orfanato. Quando
chegaram estava tocando piano na sala de música e cantando baixo, por isso não
notei a presença delas. Foi apenas quando Julie veio para perto de mim que notei
que elas haviam chegado. Parei de tocar, dei as boas vindas, ajudei-as a
colocar as malas no quarto e descemos para comer. Eu tinha preparado bolo de
chocolate, pão de queijo e café. Acho que Julie adorou as comidas, pois comeu
bem, já Georgia estava bem mais calada e comia pouco, definitivamente podíamos
chegar a ser amigas um dia. Ela era realmente muito bonita, tinha cabelos
longos e negros e olhos castanhos, era um pouco mais baixa que eu e Julie
(apesar do cabelo castanho claro) parecia um pouco com ela. Depois Georgia
subiu para arrumar suas coisas, titia começou a ler para Julie e eu subi para
meu quarto, era cedo ainda, mas eu queria organizar umas coisas, ler e dormir
depois.
...
Não se passaram nem 40min e desisto de tentar qualquer
meditação das que conheço. Argh. Meditar já era complicado e não ajudava em
nada se você não conseguia aquietar a sua maldita mente tagarela. Eu tentava
ignorar as lembranças que sempre se seguiam depois do pesadelo, mas você não
pode simplesmente meditar com a mente cheia de coisas que você só queria varrer
para debaixo do tapete. Odiava lembrar daquilo, o motivo para eu estar em
Desdém nesse exato momento.
Subi rapidamente para meu quarto e estando lá passei direto
para o banheiro, acendi um dos meus incensos de cravo e fui para o box. Lavei e
hidratei meus longos cabelos ondulados e fiz o mesmo com minha pele, quando
acabei meu banho enrolei meus cabelos e meu corpo em toalhas que estavam lá.
Quando sai do Box e me olhei no espelho acabo tendo uma
surpresa, estou bonita. Não que eu fosse feia, sabia que não era, mas nunca me
achei bonita o suficiente, ter uma mãe modelo em casa não ajudou muito, ser comparada
o tempo todo com ela, a obrigação de ser linda e gloriosa como ela, essas
coisas eram muita pressão e não fazem bem a autoestima de ninguém. Mas o fato é
que no meu primeiro dia de aula eu me senti bonita. Meus grandes olhos
amarelos, apesar do pesadelo, estavam brilhantes, minha pele estava bonita,
apesar de ter uma pele muito clara eu estava mais corada, algumas finas mechas
de meu cabelo caiam em meu rosto. Afinal Desdém está conseguindo me deixar
melhor, não totalmente é claro, mas melhor. E isso me lembrava de Catarina e
Ygor, tinha uma ideia do que diriam se me vissem agora. Tinha certeza que iam
ficar muito contentes, pois há muito tempo eu não ia bem, apesar de tentar
esconder os que me conheciam sabiam como eu estava por dentro. A dor tinha me
mudado, acho que ela muda a todos.
Estava com muita saudade dos meus amigos. Lembro quando
íamos à escola, sempre juntos. Ygor passava para me buscar no carro dele e
depois íamos pegar Cat.
Catarina era praticamente uma rainha da escola, com seus
longos cabelos cacheados cor de avelã e mechas cor de cobre, seu corpo perfeito
(e como não? Ela praticamente já nasceu fazendo ginástica olímpica), sua pele
dourada e seus olhos verdes esmeralda, eu ainda não sei como viramos amigas,
ela sempre foi popular demais, linda demais. Quando tinha nove anos, eu era um
dos seres mais desengonçados da face da terra e ela já era linda e segura de
tudo, nos conhecemos graças as nossas mães, que são melhores amigas, porém a
família de Cat morava na Califórnia e tinham acabado de se mudar de volta para
o Brasil, logo na primeira visita a minha casa nós nos tornamos amigas. Ela
sempre escolhia minha roupa quando saiamos e me defendia na escola quando
falavam de mim, estava sempre lá, sempre que eu precisava e eu fazia o mesmo
por ela, Cat era incrível, uma amiga leal e sincera. Ela meio que me introduziu
no mundo dela e de certa forma eu gostei das atenções em mim, sempre gostei de
ter amigos a minha volta, gosto de fazer as pessoas felizes e gostei da vida que
Cat me proporcionou, pelo menos antes dele aparecer e estragar tudo.
Ygor era popular também, não nas mesmas proporções que Cat,
mas ainda assim popular, era um dos meninos mais lindos que eu conhecia,
deveria ter em torno de 1,87m e tinha um lindo corpo atlético (resultado de
anos de futebol e muay thai), seus cabelos eram cor de chocolate sedosos e
lisos que faziam um contraste perfeito com a pele clara, tinha olhos
acinzentados que eram incrivelmente brilhantes e os beijos dele eram quentes e
doces assim como ele. Ele foi uma surpresa enorme para mim, diferente do que eu
imaginava dele (um imbecil arrogante) ele se revelou um dos seres mais gentis e
compreensivos da terra. Viramos amigos
quase instantaneamente depois de conversarmos um pouco, era como se nos
conhecêssemos há anos, foi meio mágico. Depois de um tempo engatamos uma
amizade colorida e era incrível a sincronia que tínhamos, não era nada forçado
ou ciumento, não tinha cobranças nós só nos beijávamos quando era conveniente,
mas éramos muito mais amigos que qualquer outra coisa. É claro que depois do
acontecido nós paramos e mesmo depois que eu resolvi que não ia desistir da
minha vida por aqueles momentos de sofrimento, não voltamos mais, não por falta
de vontade, era mais por falta de oportunidades.
Enfim saio do banheiro e escolho a roupa para meu primeiro
dia de aula: uma calça preta justa, uma regata preta e por cima dela um suéter
de tricô rasgadinho cor de vinho, uma sapatilha preta e minha tiara de pérolas
falsas negras, ponho meus anéis e algumas pulseiras, me olhei no espelho e
quase ri, tinha ficado muito bonito, mas preto não era minha cor favorita, isso
sem contar que não sou a maior fã das calças. Fiquei algum tempo decidindo se
usaria ou não maquiagem, por fim decidi usar lápis de olho marrom (que segundo
Cat realçava meu olhos amarelos), rímel, um blush pêssego só para não ficar
branca demais e um gloss incolor. Antes de sair do quarto peguei minha bolsa de
couro sintético marrom, meus cadernos na cômoda e meus óculos de sol estilo
John Lennon.
Desci com meu gato Helly no colo, e encontrei titia fazendo
o café. Olhei para o relógio, ainda eram 05h50min. Ela se virou assim que
cheguei ao último degrau e franziu a testa.
–Vai ao velório de quem? – falou isso depois de se virar
para coar o café e deu uma risadinha.
–Oh! Você não ficou sabendo?! – falei com um espanto fingido
na voz – Estou indo no velório da minha vida social. – ela riu e pôs a garrafa
de café na mesa. Eu realmente não achava isso, não tanto, até que eu tinha
gostado da calma e tranquilidade de Desdém, mas minha vida não estava aqui e
nunca estaria.
–Não fale assim. Você está subestimando demais Desdém. Ainda
vai se surpreender. – ela disse séria olhando nos meus olhos e depois sorriu,
eu sorri também e dei língua para ela.
–Vamos ver.
...
A escola era relativamente grande e bem velha, até que podia
ter sido bonita um dia, mas os maus tratos que o clima mais os descuidos
produziram foram desastrosos para a conservação da mesma. Era feita de tijolos
bege(?) antigos, tinha um telhado, que deve ter sido cinza um dia, praticamente
todo coberto por folhas e musgo e tinha uma espécie de torre no meio que se
elevava acima do resto da escola, na qual se encontrava um relógio.
Cheguei à escola muito cedo, quase ninguém havia chegado ainda.
Fui à secretaria pegar meu horário e comprar meu uniforme. Eu estava no 3° ano
A e o uniforme era muito sem graça, uma blusa azul escuro e branco, com o
símbolo tosco da escola, pelo menos a parte de baixo do traje era opcional, só
tinha que ser algo em um tom escuro. Dirigi-me a minha sala e sentei no fundo,
hoje eu queria observar meus novos colegas de classe.
Logo a sala começou a encher. Via as pessoas entrando na
sala e começando a conversar, a maioria olhava para mim, mas tentava fingir que
não estava olhando. Havia um garoto de cabelos negros próximo a mim, que
parecia não estar na sala, seus pensamentos vagavam para um local que eu
desconhecia, era um garoto bonito, mas triste; uma loira bonita e sozinha num
canto, umas menininhas engraçadas que estavam tentando esconder que falavam
sobre mim, uns garotos que me olhavam de um jeito que odiava e o mesmo tipo de
gente que se encontra nas escolas em geral. Infelizmente descobri que Georgia
não estudava comigo, e que em nas sextas ela saia mais cedo que eu, o que
significa que terei de ir embora sozinha.
O sinal finalmente bateu e o professor Augusto entrou na
sala. A primeira aula era literatura. Eu imaginava que a matéria da escola
estaria atrasada em relação a minha outra escola, mas não tanto. Íamos falar de
Romantismo, eu passei a odiar tudo que era romântico desde que tudo aconteceu.
Ele escreveu no quadro duas frases de Shakespeare e perguntou de quem eram.·.
“Tarde
demais o conheci, por fim; cedo demais, sem conhecê-lo, amei-o.”
“Duvida
da luz dos astros,
De que o sol tenha calor,
Duvida até da verdade,
Mas confia em meu amor.”
De que o sol tenha calor,
Duvida até da verdade,
Mas confia em meu amor.”
Eu
levantei a mão para responder, mas um menino da frente respondeu antes.
–Shakespeare, professor. –ele respondeu rápido e sem levantar a mão, só pude pensar em como ele era mal educado. Não o tinha notado antes, talvez tivesse chegado depois.
–Shakespeare, professor. –ele respondeu rápido e sem levantar a mão, só pude pensar em como ele era mal educado. Não o tinha notado antes, talvez tivesse chegado depois.
–Muito bem, está correto. –disse o professor com um pequeno
sorriso animado nos lábios. –Agora, alguém aqui sabe me dizer que conceitos a
primeira frase emprega, ou quer dar sua opinião a cerca desse glorioso
sentimento que é o amor? – ele falou com empolgação, provavelmente por alguém
ter respondido a primeira pergunta corretamente. Eu torci a cara para a última
pergunta. Porém essa ninguém respondeu, ele ia voltar a falar, então eu
levantei a mão, resolvi dar minha opinião. Ele fez um gesto com as mãos
indicando que eu poderia falar e quase toda a turma se virou para mim.
–Respondendo a segunda pergunta, eu acho que foi a loucura, professor, o que mais motivaria
alguém a falar assim? – minha voz saiu alta e clara, porém mais áspera
do que eu esperava.
–Eu já acho professor que quem falou esta frase estava
vivenciando o mais puro e verdadeiro amor. – o garoto mal educado da frente rebateu com uma voz que parecia
chocada e meio histérica ao mesmo tempo. Levei alguns segundos para poder
pensar sobre o assunto, fazia tempo que eu não debatia com alguém, na minha
antiga escola eu costumava fazer isso com os professores, era adorável, sempre
conversei muito com eles, mas nessa escola era diferente, o garoto estava
realmente discutindo comigo. O garoto, pelo que eu podia ver da minha carteira,
estava usando all star, uma camisa azul e um jeans com aparência meio gasta,
ele tinha os cabelos pretos e meio bagunçados e era alvo. Se ele queria
discutir comigo, era o que iria ter.
–Na primeira frase, por exemplo, fica explicito que eles mal se
conheciam. Como pode o ''amor'' existir dessa forma? Entre dois seres que mal
se conhecem. O amor por tanto não motivou nada. Talvez o desejo sim. – eu praticamente cuspi as
palavras, esse garoto não sabia nada.
–O amor não é um sentimento racional, ele acontece de
forma que poucos sabem ou sentiram. –
o garoto estava se estressando, me deu vontade de rir, a situação estava
ficando divertida.
–Oh, que coisinha doce você é. –falei com ironia, agora eu queria irritar ele. – Sabe
professor, li num livro uma vez que o "amor" é uma coisa totalmente
psicológica. Você ama o que te faz bem. Você ama o que dá prazer em você. Você
nunca pensa no outro e sim nas coisas que ele te proporciona. E você consegue
se provocar o amor... Tipo, você consegue se obrigar a amar alguém. A
conclusão, docinho, é que o amor é algo muito mais racional do que você acha. – falei tudo isso sorrindo e
fitando as costas dele eu tive de dar uma risadinha baixa, o garoto cerrou os
punhos.
–Se não compreende o amor, não pode ser considerada uma pessoa normal,
pois o amor é o sentimento mais redentor que existe em todo o universo e o mais
belo também. Ele modela as pessoas para que elas descubram tanto a si mesmas
quanto aquele (a) que o cativa. Se você não sabe disso, não precisava ter nem
se dado ao trabalho de argumentar. – ele falou e respirou fundo depois.
–Oh! Romeu, Romeu!
Mas porque és tu Romeu? – depois
de citar esse trecho de Romeu e Julieta dei uma pequena risada carregada de
ironia. – Eu sei o que estou
falando. É por isso que estou falando. Realmente o amor modela as pessoas, elas
se tornam obsessivas, ciumentas, controladoras e – Droga, minha voz falhou um pouco. – violentas. É isso que o amor é... Um
sentimento destrutivo. – o garoto não respondeu. Será que ele era tão
lento assim? Decidi que iria ajuda-lo, então completei minha frase – Tenho pena de pessoas que acham que o amor
muda alguém para melhor. São pessoas iludidas, que provavelmente vivem em
sofrimento. Esperando o "amor" aparecer.
–Sentimento
destrutivo? Pessoas iludidas? –
Ele riu sem humor algum. –
Você não sabe mesmo do que está falando. O amor tem realmente a capacidade de
mudar pessoas para melhor, sei disso mais do que imagina. Você não sabe do que
está falando.
– Parece que quem não sabe algo aqui é você... Você já ''amou'' alguém,
querido? Se sim sabe do que eu estou falando. Não acredite nesses livros
românticos bobos. Eles são cópias da "lindíssima" idealização do
amor. – Esperei que ele respondesse, tive de ajuda-lo de novo, por que a
resposta não veio - Só para constar que eu não
estou falando do amor de pais por um filho, ou do amor de irmãos. Estou falando do amor entre duas pessoas, do desejo carnal
que há entre os dois e que as pessoas insistem em chamar de "amor".
–O amor é mais que um simples desejo carnal, o amor é
se preocupar um com o outro, ficar ao lado da pessoa em qualquer momento que
necessitar, compartilhar momentos belos e indescritíveis juntos e sensações que
te deixam sem ar, que fazem você ignorar qualquer coisa em volta e só saborear
aquilo. Isso é o amor, Srta. Sei-De-Tudo-Sobre-Isso. –eu sorri com a resposta dele,
estava tudo ficando tão divertido.
–Oh, mas Dr. Do Amor, só posso pensar então duas coisas. A primeira que
o senhor é muito otimista ou que o senhor nunca "amou"... Só está
repetindo o que leu. Deixe-me presenteá-lo com um pouco de filosofia de vida: O
amor é um jogo. Um jogo de interesse e poder. Poder sobre o outro, como tudo na
vida. – eu
colocava minha voz em tom de falsete e ok, eu estava pegando pesado, mas o
garoto estava pedindo por isso praticamente.
–Você que não sabe
de nada, já que pensas que tudo relacionado ao amor é um simples jogo de
interesse. Amar e ser amado são desejos de todo o ser humano com algum senso de
romantismo. Que, pelo visto, você não tem em nenhuma célula de seu corpo. – ele realmente estava com raiva,
eu tive de me controlar para não rir e ficar com a cara séria.
–Romantismo?! Estou começando a achar que você nem mesmo leu
um livro sobre amor! Já acabou de ler algum livro romântico de Shakespeare?
Eles não acabam bem. São tragédias. Se o amor é tão bom assim como o senhor
está discursando por que nenhum acaba bem? – joguei as perguntas para ele, minha criatividade estava
acabando, principalmente por que ele não mudava muito os argumentos. Ele
murmurou algo que não consegui entender. Tudo bem, eu iria ajuda-lo de novo. – O
senhor é muito romântico, tenho de admitir. Mas isso não muda o fato de que o
amor não existe. Imagino que leia bastante os livros do Nicholas Sparks, já que
você é tããão romântico. – ele passou
as mãos pelos cabelos, mas não me respondeu. Eu não ia deixar ele me ignorar
dessa forma, na frente daqueles rostos chocados com a discussão. Então o
complemento perfeito de meu discurso veio na minha cabeça e eu o disse
sorrindo. –O que te motiva a acreditar no amor? Ou será que só viu os
filmes da Disney e se convenceu que o amor existe?
–É a minha vida. E são minhas
crenças. Você não mudará nada. – Ele parou e pensei que tinha acabado, mas
quando ia começar a falar ele completou. – Você quer que eu fale então eu vou
falar: meu pai foi um idiota cretino por ter deixado minha mãe sozinha pra me
criar e cresci escutando que o amor não prestava para nada além de destruir uma
pessoa. Mas eu penso diferente, eu acharei o meu amor e mostrarei que ele
existe sim e que ninguém pode lutar quando ele aparece. – enquanto ele falava eu cansei
da discussão boba, ele não ia mudar de opinião, e os argumentos dele eram muito
pessoais e os meus muito espinhosos e baseados em livros de psicologia.
–Enfim, professor essa é minha
opinião. –dei um sorriso a ele que também estava tão chocado quanto os outros.
–Você não pode provar que o amor não existe! – o garoto falou e se virou para
mim pela primeira vez. Não pude falar nada, eu fiquei surpresa, tanto quanto
ele estava.
Foi então que vi seus olhos. Meu
coração acelerou instantaneamente e provavelmente eu corei, mas mantive meu
rosto com o ar de superioridade que lhe era característico. Os olhos dele
estavam surpresos apesar do resto do rosto não estar. Eu conhecia aqueles olhos
azuis, eu os tinha desenhado no meu caderno, aqueles olhos tinham aparecido em
um sonho meu. Eu fiquei sem reação pela primeira vez em toda a nossa conversa,
ele parecia do mesmo jeito. Eu não reconhecia o resto do rosto, mas aqueles
olhos sim. Foi então que veio na minha mente a lembrança, aqueles olhos, foram
eles que me salvaram, foram eles que me tiraram do lago. Minha mente, apesar de
perturbada formou uma frase que saiu para responder a última sentença que ele
proferiu. Eu era orgulhosa o suficiente para não me conter.
–Você
também não! – dessa vez
minha voz saiu meio falhada e meio acusativa, mas alta o suficiente para que
ele escutasse.
Olhamo-nos por mais alguns
segundos e depois ele se virou para frente.
O professor continuou a aula normalmente, provavelmente preferiu fingir que nada havia acontecido. Sabia que muitos dos meus novos colegas de classe ainda me olhavam, com toda certeza ainda estavam chocados com a novata que fez uma mini briga com o coleguinha querido deles, mas eu não me importava, mal senti os olhares. Estava preocupada em tentar organizar a bagunça que minha mente formou, maldita consciência, mas eu já sabia o que fazer.
Por: Letícia Cavalcante
O professor continuou a aula normalmente, provavelmente preferiu fingir que nada havia acontecido. Sabia que muitos dos meus novos colegas de classe ainda me olhavam, com toda certeza ainda estavam chocados com a novata que fez uma mini briga com o coleguinha querido deles, mas eu não me importava, mal senti os olhares. Estava preocupada em tentar organizar a bagunça que minha mente formou, maldita consciência, mas eu já sabia o que fazer.
Por: Letícia Cavalcante
s2 Be e Vic..
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